Em 1994, a extinta Editora Maltese me convenceu a escrever um livro sobre os 30 anos de carreira, naquela época, de Toquinho, meu irmão. O livro ficou pronto em 1996. Além do lançamento em São Paulo, em maio foi marcado para Fortaleza um show de Toquinho e o lançamento do livro “Toquinho – 30 anos de música”. Apesar de minha aversão por avião, lá fui eu junto com Márcia, minha esposa, para Fortaleza. Márcia estava grávida e eu sou paraplégico. Chegando em Fortaleza, ainda no aeroporto, precisei usar o banheiro para esvaziar a bexiga. Márcia, grávida, tinha de ser poupada de certos esforços físicos. Então surge o anjo salvador, o Genildo. Eu não o conhecia, tinha trocado com ele duas ou três frases antes de subir no avião, ainda em São Paulo. Derramando gentilezas e carinhos, como se me conhecesse há anos, ajudou-me a entrar no banheiro, sair da cadeira, fazer o xixi necessário, e ainda recolheu o recipiente com urina para despejá-la no vaso sanitário. Lidar com cadeirante e sua cadeira tem de ter jeito, não ultrapassar limites. Tem de ser atencioso sem exageros, e Genildo demonstrava essa percepção humana que só os homens polidos são capazes de tais cortesias. Lá em Fortaleza, antes do show, pudemos apreciar o entardecer em frente ao mar. Numa conversa longa e sem pressa, eu começava a sentir uma proximidade existencial entre nós. Comentamos nossas trajetórias, falamos de música, de livros, de pintura, jogando conversa fora e colecionando sentimentos. Dobramos o tempo exaltando o presente, imaginando o futuro, reconhecendo-nos no passado como alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, quase da mesma turma. Acho até que revivendo versos do hino das Arcadas: “Quando se sente bater no peito heróica pancada…” Naqueles momentos sentíamos bater em nossos peitos a heróica pancada da amizade que começava a existir entre nós. Amizade que passou a flutuar numa mistura de admiração e carinho, respeito e confiança. Logo Genildo me convidou a integrar a equipe de trabalho da Circuito Musical, cooperando na área de pesquisa e divulgação dos shows realizados com Toquinho, meu irmão. Assim, cada vez mais a relação profissional entre nós foi adquirindo um afeto pessoal, invadindo o âmbito familiar numa conexão de amor fraternal. Aprendi a usufruir da gentileza, da disponibilidade e da integridade moral de Genildo. De sua natureza simples e doadora; da facilidade com que transforma momentos complicados em atalhos suaves. Ele tem sempre um sorriso salvador, uma palavra que alivia a amargura, um verso que falta para a estrofe mais complicada do cotidiano, tão difícil de compor. E ele a completa sempre com a humildade que caracteriza seu percurso de vida percorrido até hoje, desde a infância até o grisalho quase neve de seus cabelos encaracolados, que o transformam num tiozão de confidências e conselhos, a marca maior do respeito e da confiança entre duas pessoas que se querem bem. Obrigado Genildo, por sua amizade e pelo carinho constante dispensado a mim e minha família.