Vera Barbosa – depoimento

Na jornada do longa-metragem “Cantando pras Cadeiras”, dirigido pelo talentoso Vicentini Gomez, um encontro singular revela a mágica fusão entre passado e presente. Três homens, cujas vidas se entrelaçaram com a minha ao longo de décadas, reaparecem em um cenário onde arte e destino se encontram.

Vicentini, parte da chamada “família teatral”, carrega em sua essência a nostalgia de uma época em que almas artísticas se encontravam nos bares e restaurantes após os espetáculos, que eram nosso ponto de encontro. Genildo, que se destacou na produção teatral e musical, foi meu companheiro no grupo teatral “Fosse uma manhã de Sol” – uma homenagem ao poema de Oswald de Andrade –, personificava a ousadia e o espírito revolucionário que marcavam nossa juventude. E Fred, o produtor que deu vida aos sonhos musicais de Vinicius de Moraes e Toquinho, trazia consigo a simplicidade e a grandiosidade dos grandes mestres.

Décadas se passaram, e nossos caminhos, que haviam divergido enquanto eu vivia longe do Brasil, convergiram novamente neste projeto cinematográfico. A vida, com sua essência mágica e brilhante, nos reuniu em um momento carregado de maturidade, sabedoria e alegria. Este reencontro é uma alquimia perfeita, um testemunho da beleza e da imprevisibilidade da existência.

Sentindo-me agraciada por este instante, interrompo momentaneamente a reunião. A necessidade de registrar essa confluência de tempos e experiências é irresistível. Com uma sensação de adolescência e uma alegria quase infantil, levanto meu celular para fazer uma selfie. Este simples ato simboliza a eternidade do momento, a síntese de uma vida inteira de encontros e desencontros, de distâncias e proximidades.

Em cada rosto, vejo refletidas nossas histórias compartilhadas, e percebo que, apesar dos anos e das mudanças, a essência de nossa conexão permanece intacta. A magia da vida reside precisamente nessas reviravoltas inesperadas, que nos permitem, por um breve instante, reviver o passado com os olhos do presente.

Vera Barbosa